8 de abril de 2009

Caçador de pipa

Fazer pipa é uma arte. Nem todos têm habilidade para sua confecção, mas aquele garoto estava no caminho certo. Na sua rua moravam pelo menos três amigos que faziam pipas excelentes, e ele sempre os observava.

Cores, tamanhos, formas, linhas sempre novas e adequadas, tanto para a armação, quanto para soltar as pipas. Plásticos ou retalhos de pano para as rabiolas, papéis de seda para encapar, cola para colar. As talas, conseguidas em buritizais nos arredores de Macapá, ou nos alagados do bairro do Laguinho, eram cuidadosamente raspadas e medidas, para que o equilíbrio das pipas não ficasse prejudicado.

Como eram animados aqueles finais de semana de férias escolares! Fazer suas próprias pipas é muito melhor do que comprá-las prontas!

Quando o garoto finalmente conseguiu fazer a sua pipa perfeita, teve a infelicidade de perdê-la num enlace, e depois vê-la danificada na mão de quem a pegou. Mas não se deu por vencido e esperou a próxima queda dela, porque ela certamente cairia de novo.

Não caiu. Enroscou-se na rede elétrica em frente a sua casa, e lá foi abandonada. Imediatamente o garoto pegou uma pequena pedra do chão, amarrou na ponta de uma linha e começou a arremessar na direção da pipa nos fios. Queria recupará-la, pois poderia consertar o que foi danificado, e assim teria novamente sua pipa 'perfeita'.

Ignorando o perigo que já corria, trouxe de dentro de sua casa uma vara de alumínio tão comprida que era capaz de alcançar, com algum esforço, o fio onde a pipa estava enroscada. Um pouco abaixo existiam outros fios, que a vara tocava insistentemente.

De repente, mas previsivelmente, o garoto sentiu que a vara ficou presa. Olhou para ela e viu que parecia estar grudada aos fios. Largou-a e confirmou que estava presa, não caiu no chão. Inadvertidamente, puxou forte para baixo no intuito de soltá-la, mas percebeu que faíscas caíram ao seu redor, e logo em seguida ouviu um estouro que o fez largar a vara com susto, e, em seguida, foi banhado por uma chuva de faíscas.


O garoto saiu pulando feito um coelho, buscando abrigo sob uma jovem mangueira próxima ao local. A vara partiu-se em duas, sendo que a parte que estava em contato com os fios ficou levemente derretida, e a outra parte apenas na ponta onde partiu.

Toda a energia da rua foi automaticamente desligada, o que fez com que os moradores saíssem de suas casas para saber o que tinha ocorrido. E o garoto, acreditando que poderia se misturar aos curiosos, teve o azar de estar sendo observado pela vizinha mexeriqueira, que por anos o transformou no protagonista de diversas versões sobre o fato.

Nunca mais aquele garoto tentou recuperar suas pipas. Não pelo perigo, mas porque a vizinha nunca tinha o que fazer.


- Navi Leinad -

6 comentários:

Harold disse...

Este texto é fabuloso. Tenho certeza de que um novo cronista foi descoberto. Parabéns! O próximo passo será fazer os jornais de Macapá se interessarem em abrir uma página apra este novo artista.
Lendo,lembrei uma frase citada no fim do filme Menino maluquinho: O MENINO DESCOBRIU QUE NÃO ERA UM MENINO MALUQUINHO. ELE ERA UM MENINO FELIZ.
Parabéns,de novo, e feliz páscoa.

Obs: Não esqueça de oferecer seu comentário para a psotagem feita sobre um clipe do genial Fito Páez.

Menina do Rio disse...

Renascer, recomeço, encontros e reencontros, fraternidade,
amor, amizade, sonhos e esperanças, independente de filosofias
e credos. que o sentimento esteja presente em nossos corações.
São os meus votos nesta Páscoa

Um beijo

Alcinéa Cavalcante disse...

Belo texto.
Não consigo dizer "pipa". Só digo papagaio rssssssss
Mas hoje estou aqui para te desejar Feliz Páscoa.

Ivan Daniel disse...

Harold,
obrigado pelo comentário.
Vou tentar ver o vídeo do Fito... lembra que a conexão de Macapá é lenta?
Abraço.

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Verônica,
muito obrigado.
Espero que tua Páscoa tenha sido renovadora.
Abraço.

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Alcinéa,
pior é que nem eu consigo.
rsrsrsrs...
Falo papagaio, rabiola, cangula, e curica. Cada uma é um tipo específico. A pipa seria aquela com formato mais complexo, imitando objetos. Foi assim que aprendi.
Mas nesse texto o autor utilizou pipa por ser o nome mais conhecido... 'universal'.
Obrigado pelos votos.
Que a tua também tenha sido feliz.
Abraço.

Anônimo disse...

Olá Ivan como vai!
Parabens pelo belo texto, muito interessante e corriqueiro na época das ferias da garotada em todo lugar tem pessoas assim sempre observando a arte das crianças! Mais valeu Daniel peloseu talento de escrever coisas agradaveis um grande abraço! Me desculpe a minha ausência em seu blog ando com a vida um pouco turlenta por aqui, mais é assim vida que segue mais uma vez um grande abraço.

Ivan Daniel disse...

Valeu, Celso.
Obrigado pelas palavras.
E desculpa pela demora na resposta do teu comentário... eu também por aqui não estou muito assíduo nos blogs amigos rsrsrrs...
Abraço.